DOM EDMAR PERÓN VIGÁRIO EPICOPAL DA REGIÃO BELÉM-SP
Palavra do Bispo Região “Ide, anunciai a boa nova a toda criatura”
Publicado em 29 de outubro de 2014
O Evangelho segundo Marcos, considerado o mais antigo, apresenta o encontro de Jesus Ressuscitado com os Onze discípulos, no contexto de uma refeição. A Eles, o Senhor deu esta ordem: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a boa nova a toda criatura” (Mc 16,15). Essa missão, confiada à Igreja, não perdeu sua validade, mas continua atualíssima.
Ultimamente, o Papa Francisco, com sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, sobre aAlegria do Evangelho, conferiu um novo vigor a tal mandato missionário, recebido do Senhor. Recordou a cada pessoa batizada e às suas inúmeras comunidades a necessidade de um acurado discernimento, a fim de compreenderem o caminho por onde andarão. Contudo, a ninguém é concedido se esquivar de responder ao chamado: “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (20). Somos uma Igreja enviada às “periferias”. Quando o Papa fala dessas “periferias” poderíamos nos lembrar imediatamente dos bairros mais afastados da grande São Paulo e das outras cidades, e que às pessoas desses lugares a Igreja é enviada. Sim, a essas pessoas certamente somos enviados. Mas a proposta tem um horizonte muito mais amplo; as “periferias” incluem “os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados”, afirmou Francisco na homilia da Missa Crismal de 2013. Essas “periferias humanas” são, pois, tanto geográficas como existenciais.
Ser uma “Igreja em saída”. A Igreja, a partir dessa dimensão missionária, é a maneira como o Papa a entende, em sua Exortação Apostólica. A essa Igreja “com as portas abertas” (46), ele confia o grande horizonte da evangelização, que haverá de incluir três âmbitos (14): por primeiro, o “da pastoral ordinária, […] orientada para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem cada vez melhor e com toda a sua vida ao amor de Deus”; depois, o “daspessoas batizadas que, porém, não vivem as exigências do Baptismo, não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a consolação da fé”; e, por fim, o “das pessoas que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram”.
Entre nós, na Arquidiocese de São Paulo, foi-nos oferecido um precioso exemplo de como se vive a “Igreja em saída”, preocupada com as “periferias humanas”: aconteceu a beatificação de Madre Assunta Marchetti († 1948). Ela deixou a Itália com 24 anos e veio ao Brasil, onde se consagrou ao serviço dos migrantes e dos órfãos; e fez isso com total dedicação até sua morte, aos 76 anos, no Orfanato Cristóvão Colombo, Vila Prudente, hoje conhecido como “Casa Madre Assunta Marchetti”.
Ela foi oficialmente unida a numerosos homens e mulheres, dedicados a Deus, servidores do Povo dele, também testemunhas de uma “Igreja em saída”. Lembro aqui, apenas algumas dessas pessoas: São José de Anchieta, que em 1553, com apenas 19 anos, chegou ao Brasil e tornou-se um missionário incansável, o “Apóstolo do Brasil”; Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus († 1942), para quem os pobres e os doentes foram os dois ideais de sua vida ascética; Santo Antonio de Santana Galvão († 1822), nosso querido Frei Galvão, “homem de paz e de caridade”; o Beato Mariano de la Mata Aparício († 1983), o Padre Mariano, que buscou a santidade nas pequenas coisas, no seu trabalho pastoral, na vida em comunidade: atendeu com paciência as crianças, levou conforto aos mendigos e aos doentes, além de ser um bom professor; o Venerável Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida († 2006), servidor das crianças e dos adolescentes, bispo pobre para os pobres.
E, para concluir, gostaria de acrescentar dois aspectos, ainda:
– Primeiro: “Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas «por atração»” (14);
– Segundo: “A alegria do Evangelho é uma alegria missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de alegria. Vive-a Jesus, que exulta de alegria no Espírito Santo e louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e aos pequeninos. […] Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está dando frutos” (21).
+ Edmar Peron,
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo